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Domingo, 23 de Novembro de 2003
Hanna Arendt - «A Condição Humana»
Alguns excertos, para aguçar o apetite:

A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perdeira toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na relaidade do mundo, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir. Esta intensidade é tão grande e a a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra realidade mundana. Já se observou muitas vezes que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as 'coisas boas' da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo. O facto é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade de transcendser e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ónus, as fadigas e as penas da vida. » (p. 144)



A emancipação do trabalho e a concomitante emancipação das classes trabalhadoras em relação à opressão e à exploração significaram certamente progresso em direcção à não-violência. Muito menos certo é que tenham representado progresso também na direcção da liberdade. Nenhuma violência exercida pelo homem, excepto a empregada na tortura, pode igualar a força natural com que as necessidades da vida compelem o homem. (p. 153)

O mundo, o lar feito pelo homem, construído na terra e fabricado com o material que a natureza terrena coloca à disposição de mãos humanas, consiste não em coisas que são consumidas, mas sim em coisas que são usadas. Se a natureza e a terra constituem, de modo geral, a condição da vida humana, então o mundo e as coisas do mundo constituem a condição na qual esta vida especificamente humana pode sentir-se à vontade na terra. Aos olhos do animal laborans, a natureza é a grande provedora de todas as «coisas boas», que pertencem igualmente a todos os seus filhos, que «(as) tomam de (suas) mãos» e se «misturam com» elas no labor e no consumo. Essa mesma natureza, aos olhos do homo fber/i> construtor do mundo, «fornece apenas os materiais que, em si, são destituídos de valor», pois todo o seu valor reside no trabalho que é realizado sobre eles. Sem tomar as coisas das mãos da natureza e consumi-las e sem se defender contra os processos naturais de crescimento e declínio, o animal laborans não poderia sobreviver. Mas, sem se sentir à vontade no meio de coisas cuja durabilidade as torna adequadas ao uso e à conatrução de um mundo, do qual a própria permanência está em contraste directo com a vida, essa vida não seria humana.

Quanto mais fácil se tornar a vida numa sociedade de consumidores ou de operários, mais difícil será preservar a consciência da necessidade que a impele, mesmo quando a dor e o esforço - manifestações externas da necessidade - são quase imperceptíveis. O perigo é que tal sociedade, deslumbrada com a abundância da sua crescente fertilidade e presa ao suave funcionamento de um processo interminável, já não seria capaz de reconhecer a sua própria futilidade - a futilidade de uma vida que «não se fixa nem se realiza em coisa alguma que seja permanente, que continue a existir depois de terminado o labor». (p.158, 159)




É esta durabilidade que empresta às coisas do mundo a sua relativa independência dos homens que as produziram e as utilizam, a «objectividade» que as faz resistir, «obstar» e suportar, pelo menos durante algum tempo, às vorazes necessidades dos seus fabricantes e utilizadores. Deste ponto de vista, as coisas do mundo têm a função de estabilizar a vida humana; a sua objectividade reside no facto de que - contrariando Heraclito, que disse que o homem jamais pode atravessar o mesmo rio duas vezes - os homens, apesar da sua contínua mutação, podem reaver a sua invariabilidade, isto é, a sua identidade no contacto com os objectos que não variam como a mesma cadeira e a mesma mesa. Por outras palavras, contra a subjectividade dos homens ergue-se a objectividade do mundo feito pelo homem, e não a sublime indiferença duma natureza intacta, cuja devastadora força elementar os forçaria a percorrer inexoravelmente o círculo do seu próprio movimento biológico, em harmonia com o movimento cíclio maior no reino da natureza. Apenas nós, que erigimos a actividade de um mundo que nos é próprio a partir do que a natureza nos oferece, que o construímos dentro do ambiente natural para nos proteger contra ele, podemos ver a natureza como algo «objectivo». Sem um mundo interposto entre os homens e a natureza, haveria eterno retorno, mas não objectividade.




É da natureza do início que se comece algo novo, algo que não pode ser previsto a partir de coisa alguma que tenha ocorrido antes. Este cunho de surpreendente imprvisibilidade é inerente a todo o início e a toda a origem. Assim, a origem da vida a partir da materia inorgânica é o resultado infinitamente improvável de processos inorgânicos, como o é o surgimento da Terra, do ponto de vista dos processos do universo, ou a evolução da vida humana a partir da vida anmal. O novo acontece sempre à revelia da esmagadora força das leis estatísticas e da sua probabilidade que, para fins práticos e quotidianos, equivale á certeza; assim, o novo surge sempre sob o disfarce do milagre. (p. 226)
publicado por AG às 01:25
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De Anónimo a 30 de Abril de 2005 às 22:51
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