Terça-feira, 21 de Junho de 2005
O vento, a criança dos céus
Há dias vi, num concerto, um violinista a braços com uma rajada de vento súbita que entrou pela janela e lhe passou à frente duas ou três folha da pauta. Na assistência, que estava muito próxima dos músicos, uma senhora tentava ajudar, repondo no sítio as páginas rebeldes com a ponta do leque, cheia de medo de que este fosse trucidado pelo movimento do violino. O violinista, esse, ria-se e continuava a tocar.
Lembrei-me então de um dos melhores episódios de concertos a que assisti - no Estoril Jaz, há uns anos. Ia tocar a orquestra de Count Basie; a noite era quente e ventosa e o palco ficava numa espécie de coreto. Quando os músicos subiram, ergueu-se de súbito um vento em redemoinho que levantou no ar uma nuvem de folhas de pauta, enquanto eles olhavam, incrédulos, vendo-as cair de seguida, rodando em desordem, sobre o palco. Depois, começaram a rir, apanharam-nas do chão, trocaram-nas entre si, espreitaram para cima com ar de censura, a ver se não se repetia a brincadeira, e começaram.