Domingo, 31 de Julho de 2005
Termómetros a sério
Uma boa notícia: já se encontram nas farmácias, em alternativa aos digitais, termómetros como aqueles antigos de mercúrio que foram proibidos. Estes novos que refiro não são de mercúrio (são de uma liga qualquer), mas de resto são iguaizinhos - tirando, imagino, o facto de que quando se partem não dá para brincar juntando e desfazendo o metal em bolinhas, como fazíamos dantes. Portanto, todos aqueles que desde que vieram os termómetros digitais se recusaram a adoecer podem já ter febre tranquilamente.
Creio que era o Vinicius quem dizia isto num poema
Que tristeza infinita voltar da praia!
(era mais ou menos assim)
Sexta-feira, 29 de Julho de 2005
Lula Pena canta
Eu quero a rosa rosa
Eu quero a rosa sim
E quanto mais eu quero a rosa
Mais a rosa me quer a mim
Terça-feira, 26 de Julho de 2005
Lisboa, Senhora do Monte
A Fátima eu fui
Forças nem muito obscuras levaram-me até Fátima no passado fim-de-semana. Eu já tinha passado muito ao de leve por Fátima, mas nunca tinha andado devidamente pelas ruas (poucas) e por entre as lojas (muitas). Fátima é, da forma mais deprimente possível, a catedral do kitsch nacional. Não só o kitsch religioso (e coloquemos de parte aquilo que, na devoção, não é kitsch), mas todo o kitsch, que lá surge misturado numa profusão luxuriosa de santinhos, paninhos da louça com o Francisco, a Jacinta e a Lúcia, azulejos com dizeres populares, bilhetes de identidade do Benfica, Sporting e FC Porto, mini-garrafões com água de Fátima e a imagem de Nossa Senhora, oferendas em cera representando vísceras e outros pedaços do corpo humano (os intestinos e as túrgidas maminhas, isoladas ou em pares, eram uma obra de arte), e até Iemanjás, bandeiras nacionais e camisolas do Cristiano Ronaldo - e mesmo, imagine-se, bustos do Dr. Sousa Martins.
Foi precisamente o meu interesse pelo Dr. Sousa Martins que me encaminhou para um contacto com uma loja séria. Tive a pontaria de, no meio de todas as lojas de Fátima, ter entrado, logo à chegada, numa loja de pessoas sérias. Eu devia ter desconfiado quando vi, na montra, os postais com a irmã Lúcia morta na urna, muito retocada com Photoshop. Mas fui ingénua, e entrei. O diálogo foi o seguinte:
Eu: Boa tarde, tem medalhas do Dr. Sousa Martins?
A vendedora olhou-me, puxou os óculos para baixo, olhou-me de novo. Claro que ela não tinha culpa dos três protuberantes sinais que tinha na cara, mas esses sinais, mais os olhos azuis esbugalhados cravados em mim, mais o ar sério, faziam-me sentir que tinha um bicho de cinco olhos a fixar-me, pronto a aniquilar-me. O tom era calmo e didáctico.
Vendedora: Olhe, eu vou explicar-lhe uma coisa, que é importante que perceba. O Dr. Sousa Martins foi um grande médico, salvou muitas pessoas. (aqui a voz tornou-se mais áspera) Mas não era católico! E mais: na certidão de óbito dele, que é pública e portanto pode ler, está escrito que ele se suicidou! (aqui ergueu os ombros) É uma alma penada! Enfim, a Igreja não pode saber se ele depois se arrependeu, isso ninguém sabe, mas é considerado uma alma penada! E portanto, quando as pessoas lhe pedem coisas e elas acontecem, não é graças a ele (ergueu os braços e olhou para cima) - é a força da FÉ!
Outra cliente: Quem?
Vendedora (baixando os braços): O Dr. Sousa Martins.
A cliente: Ah, pois, olhe, o exorcista que está aí em Fátima diz que ele é o padroeiro dos espíritas!
Vendedora, rodando o corpo na minha direcção e olhando-me poderosamente: Vê? Vê? Tenha cuidado, tenha cuidado... Nas outras lojas que aí há, é capaz de encontrar. Mas nós, aqui, temos de dizer as coisas às pessoas.
Eu: Pois, agradeço. Não era para mim...
A cliente: E já viu estes papéis que andam a dar à saída do santuário? Coisas a falar mal da Igreja?
Vendedora: Ah, ah, isso, isso é da maçonaria!
Filha da cliente: O que é a maçonaria, mãe?
A Cliente: é uma seita, filha, é uma seita! Querem fazer mal à Igreja, parece que só estão bem a fazer mal à Igreja...
Saí da loja cheia de vontade de repetir o mesmo em outras lojas. Mas infelizmente, nas outras não havia pessoas sérias - só vendedores. E o busto do Doutor custa 4,5 euros.
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Sexta-feira, 22 de Julho de 2005
Hoje às 23h30, no África Festival
Ali Farka Touré ao vivo no parque Keil do Amaral, em Monsanto. Grátis.
Quinta-feira, 21 de Julho de 2005
Ó valha-me Deus!
Vinte e cinco anos mais tarde, ainda choro ao ler O Gigante Egoísta.
Ela
She said that she would dance with me
if I brought her red roses.
She said that she would dance with me
if I brought her red roses.
She said that she would dance with me
if I brought her red roses.
She said that she would dance with me
if I brought her red roses.
She said that she would dance with me
if I brought her red roses.
(E quem sabe de onde é isto?)
Terça-feira, 19 de Julho de 2005
Hoje estou em Coconino County
Segunda-feira, 18 de Julho de 2005
Modo citação: Robert Bringhurst, de novo
XVII. Parable of the voices
Behind the heart
is a deaf musician
beating a broken
drum. He is watching
the animals leap
through the hoops of our voices.
The air is another
earth full of burrows
the animals enter
and leave through the doors
of our voices. Down through our voices
the waterbirds dive.
poema de Tzuhakem's Mountain, retirado da antologia A Beleza das Armas, edição bilíngue, Antígona, traduções de Júlio Henriques