Terça-feira, 30 de Novembro de 2004
Ainda se fazem perguntas destas?
Enquanto o parlamento acaba de se dissolver, uma jornalista da Caras Notícias pergunta a Jorge Palma: 'Qual a mensagem que quer passar com este disco?'
A resposta, felizmente, foi 'Nenhuma'. Mas o que fazia ele ali?
Cesariny no Museu da Cidade
A partir de hoje, está patente no Museu da Cidade de Lisboa uma
retrospectiva da obra plástica de Mário Cesariny. A partir de Fevereiro, a exposição pode ser vista em Famalicão.
Segunda-feira, 29 de Novembro de 2004
As minhas gatas gostam do Elvis
- Podes pôr a primeira faixa em repeat - disse a Zazá, quando me viu pegar no
Elvis '56.
Assim que se ouviu a voz, mesmo sem
menear de anca, a cauda dela foi engrossando, os pelos a vibrar, as orelhas muito direitas. Sentaram-se depois as duas em frente às colunas, imóveis -
Heartbreak Hotel doze vezes consecutivas, a fazer tremer o vidro da janela, até sentirem o cheiro do peixe dominical. A meio do caminho, antes que eu tivesse tempo de trocar de CD, a Zeca ainda parou e disse:
- Põe no pause. Voltamos já.
Na livraria Ler Devagar passam-se coisas estranhas
Grupos de cidadãos, nem todos ilustres desconhecidos, fazem complots e marcam encontros para discutir temas e formas de intervenção cívica que não devo aqui reproduzir. São cabalas polifónicas, agitadores que têm de abandonar a discussão para irem buscar os filhos a casa da avó.
Passemos à casa-de-banho. Na parede, um cartaz de grande formato com o Manifesto Surrealista de 1924, em francês. Sobre o cartaz, comentários e anotações dos frequentadores do estabelecimento, uns mais enigmáticos que outros, trazendo à intimidade do WC uma prática afim do cadavre exquis. 'Praia da Cruz Quebrada' é uma das notas que mais me fascinam. No entanto, quem conhece a praia da Cruz Quebrada não estranharia ver lá, entre barracas de madeira, Minnies de peluche sentadas em cadeiras, barcos de pintura lascada, triciclos e gatos de várias cores, este cartaz.
Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004
Com o patrocínio 'mantenha-se vivo das 9h00 às 18h00'
Anna Karenina começou a suicidar-se hoje entre as estações de Metro do Marquês de Pombal e de Picoas. Deixei-a no penúltimo parágrafo, tentando libertar-se do seu saquinho vermelho, para poder passar o bilhete nos torniquetes e sair da estação. Vai ficar parada à beira dos carris, a contar os vagões que passam e a olhar o buraco negro entre as rodas, até às seis ou sete da tarde.
Quinta-feira, 25 de Novembro de 2004
Ernst Jandl
A ORQUESTRA FANÁTICA
o maestro ergue a batuta
a orquestra agita os instrumentos
o maestro abre os lábios
a orquestra entoa um uivo enraivecido
o maestro bate a batuta
a orquestra arremessa os instrumentos
o maestro abre os braços
a orquestra esvoaça pela sala
o maestro inclina a cabeça
a orquestra roja-se pelo chão
o maestro sua
a orquestra debate-se com torrentes ruidosas de água
o maestro olha para cima
a orquestra precipita-se em direcção ao céu
o maestro está ao rubro
a orquestra colapsa, incandescente
Este e outros poemas de Jandl aqui (lamento, mas não encontrei nenhuma página sem citação dos Bee Gees... pobre Jandl).
Quarta-feira, 24 de Novembro de 2004
Os sapatos vermelhos têm mesmo poderes mágicos?
Sim.
Terça-feira, 23 de Novembro de 2004
Que bonita eres
Ontem tive oportunidade de folhear uma revista Hola! (daquelas com ponto de exclamação no princípio que se chamam, em bom português, 'Ióla'). Foi assim que descobri a votação das princesas: a revista propôs aos seus leitores uma série de temas/características para votarem nas melhores princesas europeias. Por exemplo, a princesa mais bem vestida, a princesa mais profissional... Doña Letizia foi medalha de bronze em todas as categorias. De resto, eram sempre os mesmos cinco nomes que surgiam. As minhas categorias preferidas foram sem dúvida 'A princesa mais desportista' e 'A princesa mais apaixonada' (aliás, 'mas enamorada'). Quando finalmente se retomar a colecção Anita, penso que podiamos propor os mesmos temas: Anita Desportista, Anita Apaixonada, Anita Profissional. Embora eu não desdenhasse um Anita e Cristiano Ronaldo.
Sexta-feira, 19 de Novembro de 2004
Berçário
Tratar certas palavras como crianças de colo. Mimá-las durante o dia. Não as perder de vista, mesmo quando os lábios se atarefam com outras. Dar-lhes o peito enquanto se embala o cansaço. Acordar a meio da noite com o pressentimento de que, no meio do silêncio, nos chamaram.
Anti-depressivo
Hoje deparei-me com alguns marmelos que tinha esquecido no frigorífico, para quando tivesse tempo para. Peguei-lhes; tinham uma película levemente pegajosa. Foi então que senti o cheiro, que recomendo a todos como desentupidor das manhãs em que custa acordar. Poucas coisas cheiram tão bem como este fruto - inteiro, pesado, na sua forma tosca e mal acabada, um aroma de ervas que crescem, límpido, que se condensa dentro da boca e a envolve em inúmeros, minúsculos grãos de doçura.