Segunda-feira, 2 de Janeiro de 2006
(Que silêncio; está-se tão bem aqui)
Como saber se um vulcão está extinto?
Um vulcão extinto é uma coisa muito triste, apenas comparável a uma área de orquestra que nunca é usada. No entanto, nem sempre um vulcão aparentemente extinto o está, de facto. É um pouco como aquelas borbulhas que não esprememos até ao fim. Grande porcaria.Descobri no outro dia que foi este o primeiro post deste blog (quando ainda não era bem um blog, quando eu andava a brincar a ver como funcionava isto).
Este blog, há semanas, pôs-se a dormir uma sesta, depois entrou em hibernação, depois talvez em coma. Não faço ideia. Este post é apenas para dizer alguma coisa a quem ainda aqui vem (se é que não desistiram já todos, que é o que eu teria feito). Deixou de me apetecer postar, e pronto. A verdade é que não sinto que tenha a dizer seja o que for que valha a pena, que eu ache que mereça interromper o silêncio. Também deixei praticamente de ler blogs, mesmo aqueles de que ainda gosto. Talvez seja o meu organismo a rejeitar uma vida de excessos, talvez sem saber esteja metida num casulo, talvez tenha sido, finalmente, abduzida por extraterrestres, ou talvez isto seja um amor que acabou e não haja nada a fazer. Não sei, como no primeiro post, se isto está extinto ou apenas em repouso. E já nem penso muito nisso (eu, que até sou uma rapariga ajuizada!).
E depois, venho aqui pela calada cobardemente, só por descargo de consciência ou sucedâneo de cortesia, quando acho que já toda a gente foi embora. Se não fosse mariquinhas, nem dizia nada. Refiro o primeiro post mesmo sabendo que este falso passe de magia de fingir que fechei o círculo é desajeitado. Nem tenho vontade ou coragem de me sentir emocionada (e não estou, de facto) nem agradecida (isso, estou), vejam só que miséria. Mas fica aqui uma palavra que, se for realmente a última (e eu sei lá), sempre é bonita: sal.
Segunda-feira, 14 de Novembro de 2005
Fuma
Sentada a comer uma sopa em silêncio e a pensar que por entre os livros, revistas e discos espalhados já só sobra espaço para o prato, a colher, o copo - uma pequena praia sobre a mesa que me serve de ancoradouro para a refeição nocturna. Gostaria de ver a mesa vazia, disponível, a mesa onde poderia pousar apenas uma maçã ou uma pedra redonda e lisa, um segundo prato para alguém que viesse. Um dia destes, é claro, hei-de arrumar isto.
Olho para a varanda através do vidro. Lá fora, ao frio, Pavese fuma, de gabardine beige com a gola levantada; de vez em quando, dá um passo para a esquerda, ou para a direita, olha talvez as casas do outro lado da rua. Fuma ainda, enquanto eu como a sopa e me deixo prender de vez em quando pelo brilho do fundo da colher. Já é tão de noite; é a hora a que Pavese fuma, a hora a que como a sopa.
E então penso: Pavese fuma, fumou alguma vez na vida? Espero que sim. Que pelo menos seja ele, enquanto termino a sopa.
O demo, ainda à solta e agora com câmara de vídeo
Já está disponível no portal
Fátima Virtual o vídeo das exéquias da irmã Lúcia (entre outros).
O demo anda outra vez à solta
Depois de uma ou duas idas ao cabeleireiro das quais saí incólume, tentaram desta vez vender-me um champô para disciplinar o cabelo.
Vingança óbvia e mesquinha por eu ter dito que não queria fazer brushing.
Sexta-feira, 11 de Novembro de 2005
Os cravos
Lia o bilhete que está na parede, baloiçava a esfera e ajeitava os cravos. Depois, ia-me embora.
Hans Holbein,
Georg Gisze, mercador alemão em Londres (1532)
Quinta-feira, 10 de Novembro de 2005
Dizem-me todos o mesmo
O vendedor da revista Cais já não tem revista Cais - diz que está à espera do
número 8 da revista Águasfurtadas.
Isso, sim, vai render dinheirinho, vai dar para mudar de vida!, comenta.
O cauteleiro diz que não tem cautelas - está à espera do número 8 da revista Águasfurtadas.
O velhinho do Borda d´Água diz o mesmo. Aliás, até os romenos que tentam vender o Borda 'Água pelo dobro do preço dizem que esperam agora o número 8 da revista Águasfurtadas - e até lá, não há nada para ninguém.
E o homem das castanhas também.
Parece que já está na gráfica, diz-me ele.
E desta vez tem textos de Affonso Romano de Santanna (um dos melhores poetas
brasileiros vivos), Margarida Ferra, João Luís Barreto Guimarães,
William Blake (com tradução de Manuel Portela), Forugh Farrokhzad (uma
extraordinária poeta iraniana ainda por revelar em português), Moshe
Ha-Elion (com tradução de M.V. Andrade), Lourenço Bray, Paulinho
Assunção, Valério Romão, António Tavares Lopes, Regina Guimarães,
Saguenail e Jorge Mantas. Para além de inúmeros trabalhos de artes
visuais e o habitual CD Audio com obras de autores contemporâneos,
que, neste número, inclui ainda uma verdadeira preciosidade: duas
"Ostras", de Pedro Coelho..
Sempre atento, o homem das castanhas. Diz que que foi o
Rui quem lhe contou.
Quarta-feira, 9 de Novembro de 2005
Os que ficam com o que abandonámos
À noite chegam os gatos. Sentam-se nas bancadas da piscina vazia, recolhem as patas e ficam a olhar o fundo azul, fosforescente e frio do luar.
Quinta-feira, 3 de Novembro de 2005
Agora, não
Agora, não chove. Mas deve estar para chover outra vez.
Numa mão a espada, na outra
Escolheria o silêncio se fosse um silêncio puro. Uma coisa a sério, e não apenas o tempo passado a medir o silêncio, a espera inquieta por aquilo que virá quebrar o silêncio. Mas que digo eu: chove.
The Thought Project
Em que é que esta gente anda a pensar? Uma colecção de
55 instantâneos mentais, por Simon Hoegsberg.